quinta-feira, 5 de março de 2009

Akiba Rubistein – I


Um gênio sem sorte?


Akiba Kivelevich Rubinstein foi o menor de doze irmãos. Nasceu em 12 de outubro de 1882, em Stawiski (Polônia), perto da cidade de Lodz, e sua família, de judeus ortodoxos, educou-o em uma das mais estritas tradições talmúdicas.


Aprendeu a jogar xadrez aos dezesseis anos. Em seu período como enxadrista na formação se aproveitou de sua extraordinária memória, de modo que conhecia detalhadamente a maioria das partidas de seus enxadristas prediletos: Morphy e Anderssen.


O Rubinstein adolescente era um rapaz de férrea vontade e muito, muito estudioso, que fez em pouco tempo importantes progressos que em 1903 desafia a Salwe, o melhor jogador polaco da época, e que às vezes podia conceder-lhe a torre de vantagem. Diante do assombro geral, o jovem Rubinstein empatava o match. Nesse mesmo ano se atreve a participar no torneio nacional russo de Kiev, onde consegue um excelente quinto posto. Após um novo match com Salwe, em que o derrota, o reconhecem como mestre e é convidado ao congresso de Barmen, em 1905, onde compartilha com Duras o primeiro prêmio num torneio secundário.

Rubinstein segue mostrando-se como um homem disciplinado que dedicava seis horas diárias ao estudo do jogo durante 300 dias por ano; os outros sessenta a jogar torneios e os cinco restantes para descansar.


Em 1907 ganhou alguns torneios. Em 1908 venceu, em matches, Teichmann, Mieses e Marshall.

Em 1910, quando Schlechter desafiou Lasker pelo título mundial, muitos consideravam Akiba Rubinstein como o melhor jogador de xadrez do mundo. Mas 1912 foi seu grande ano: ganhou cinco torneios seguidos e produziu belíssimas partidas que ainda hoje se reproduzem com admiração. Cinqüenta anos mais tarde, o grande mestre dinamarquês Bent Larsen também ganhou cinco importantes torneios seguidos, mas num período de tempo de três anos.

Ao contrário, Rubinstein ganhou em San Sebastian,Pistyan, Breslau, Varsóvia e Vilna, nesse mesmo ano de 1912 que foi declarado o ano de Rubinstein, coisa que não havia sucedido antes na História do Xadrez.

Também obteve o reconhecimento de outros grandes astros do xadrez de sua época. Capablanca, referindo-se à partida Rubinstein—Schlechter (San Sebstián, 1912) disse: “Poucas partidas me têm impressionado tanto. Para mim é uma obra de mestria completa, um monumento de grandiosa precisão.


Por si só serve para demonstrar como deve jogar-se o xadrez...” Reti, por sua parte, elogiou “...A quase milagrosa exatidão com que as negras conduzem as suas forças à vitória” no final da partida Tarrasch-Rubinstein, (San Sebastián, 1912).


Neste período de 1907 a 1912 vence em numerosos torneios e desempenha um apurado xadrez clássico que esbarra na perfeição e que faz dele um candidato lógico para disputar com Lasker a coroa de campeão do mundo.

Rubinstein desafia Lasker, nesta época, mas não se chega a um acordo: os dois jogadores concordam em todas as condições exceto em que se se jogaria pela manhã, como queria Rubinstein, ou pela tarde, como queria Lasker, acostumado a levantar-se a avançadas horas da manhã. Após três anos de negociações, Rubinstein cede, mas o match não se pode realizar pelo estalido da Primeira Guerra Mundial. Por causa disso acontece outro revés: não conseguiu se classificar para a fase final do importante torneio de San Petersburgo, em 1914.

Rubinstein nunca teve uma oportunidade de jogar pelo campeonato do mundo, mas foi considerado o enxadrista mais forte que nunca teve a sorte de competir pelo título.


Rubinstein teve a má sorte de ver florescer seu melhor xadrez em uma época em que convivia o relativo ocaso de Lasker junto com a brilhante ascensão de Capablanca, a grande estrela latina.


Em certa ocasião, durante a celebração de um torneio, foi a um restaurante com seu tabuleiro de bolso e se pôs a analisar uma posição que teria empatada, enquanto isso, com gestos distraídos, levava a comida até a boca.

Terminando de comer, se levantou e saiu devagarzinho, sempre com seu tabuleiro nas mãos e caminhou, caminhou por todas as salas do hotel. De repente se encontrou com uma porta onde um cartaz anunciava “restaurante”. Entrou, se sentou, e voltou a comer novamente, sem recordar que havia poucos minutos tinha comido.


Na última rodada de um torneio, Rubinstein necessitava somente de um empate para assegurar o primeiro lugar isolado. Depois de alguns movimentos, seu adversário ofereceu tablas. ¡Rubinstein recusou! Depois de mais alguns movimentos, Rubinstein já havia adquirido uma clara vantagem e foi ele quem propôs o reparte do ponto. Seu oponente, surpreendido, aceitou alegremente e o grande mestre lhe espetou: ”Sou eu quem deve decidir o resultado de uma partida contra um jogador de sua categoria”.


Rubinstein fez gala em suas melhores partidas de um delicioso e elegante estilo de jogo. Neste estereótipo em que restringia o seu estilo nos diz que Rubinstein foi um jogador posicional, extremadamente racional, cuja principal virtude radica em sua precisa apreciação dos detalhes estratégicos, e que, em qualquer posição o habilitava para desenvolver uma técnica impressionantemente precisa na condução da fase final do jogo. Sem dúvida, para ser completamente equânime, há que reconhecer-se que grande parte da força de Rubinstein somente se explica por sua formidável potencialidade táctica: além de parecer suas partidas com numerosas combinações, Rubinstein ousou freqüentar as emoções fortes e os passeios à borda do abismo do Gambito do Rei em uma época em que esta arriscada Abertura havia deixado de ser popular entre os grandes mestres de primeira linha.


Deixando de lado a questão do estilo de jogo conta-se que Rubinstein teria uma forma muito especial de tratar os cavalos (os do xadrez, é claro): na hora de movê-los para trocar de casa, os empurrava com o indicador e o anular juntos.


A precariedade e a angústia que arrastou a Grande Guerra, afetaram seriamente seu sistema nervoso e ainda que, logo voltou ao tabuleiro, seu xadrez se ressentiu notavelmente. Ainda pôde, sem dúvida, derrotar grandes jogadores, como Schlechter e Bogoljubov, vencendo em Triberg (1921), Viena (1922), Marienbad (1925) e em algum outro torneio, mas seu desequilíbrio psíquico o meteu de cheio num labirinto de manias perseguidoras.

A grave enfermidade que padecia, fazia-o comportar-se excentricamente durante as partidas. Fazia sua jogada e ia até um canto da sala para não incomodar o seu adversário e ali se apoiava na parede e começava a mover o corpo em círculos enquanto falava em voz baixa.

Depois de 1932, Rubinstein não voltou a competir em Torneios de xadrez, ainda que o convidassem para participar.

A luta para melhorar sua saúde mental foi em vão. Piorou, e passou um tempo num sanatório. Algo de bom resultou disso, já que é possível que isto o tenha protegido dos nazistas, que não o incomodaram.durante a Segunda Guerra Mundial.


Nos últimos anos de sua vida esteve vários meses internado novamente em um sanatório, até que se recuperou e foi viver em Bruxelas. Ali jogou freqüentemente com o grande mestre belga O´Kelly durante a II Guerra Mundial.

Em 14 de março de 1961 faleceu, solitário, em um asilo de anciões de um vilarejo belga, onde o haviam acudido com a esperança de recuperar sua maltratada saúde.


Tarrasch, S - Rubinstein, A

[C48]

San Sebastian, 1912

1.e4 e5 2.Cf3 Cc6 3.Cc3 Cf6 4.Bb5 Bc5 5.Cxe5 Cd4 6.Ba4 0-0 7.d3 d5 8.Bg5 c6 9.Dd2 Te8 10.f4 b5 11.Bb3 h6 12.Bh4 Cxe4 13.Bxd8 Cxd2 14.Rxd2 Txd8 15.Ce2 Cxe2 16.Rxe2 Te8 17.Rf1 Bb7 18.c3 f6 19.Cg4 h5 20.Cf2 Be3 21.Bd1 h4 22.g3 a5 23.Bf3 b4 24.Rg2 bxc3 25.bxc3 Ba6 26.c4 Tad8 27.cxd5 cxd5 28.Thd1 Te7 29.Cg4 hxg3 30.hxg3 Bd4 31.Tac1 Tb7 32.Tc2 Rf7 33.Cf2 Tb2 34.Txb2 Bxb2 35.Td2 Bd4 36.Ch3 Re6 37.Tc2 Rd6 38.f5 Tc8 39.Bd1 Txc2+ 40.Bxc2 Re5 41.g4 Be3 42.Rf3 Rd4 43.Bb3 Bb7 44.Re2 Ba6 45.Bc2 Bb5 46.a4 Bd7 47.Rf3 Rc3 48.Rxe3 d4+ 49.Re2 Rxc2 50.Cf4 Bxa4 51.Ce6 Bb3 52.Cxd4+ Rb2 53.Cb5 a4 54.Re3 a3 55.Cxa3 Rxa3 56.Rd4 Rb4 0-1


Rubinstein, A – Schlechter, C

[D41]

San Sebastian, 1912

1.d4 d5 2.Cf3 Cf6 3.c4 e6 4.Cc3 c5 5.cxd5 Cxd5 6.e4 Cxc3 7.bxc3 cxd4 8.cxd4 Bb4+ 9.Bd2 Da5 10.Tb1Bxd2+ 11.Dxd2 Dxd2+ 12.Rxd2 0-0 13.Bb5 a6 14.Bd3 Td8 15.Thc1 b5 16.Tc7 Cd7 17.Re3 Cf6 18.Ce5 Bd7 19.g4 h6 20.f4 Be8 21.g5 hxg5 22.fxg5 Ch7 23.h4 Tdc8 24.Tbc1 Txc7 25.Txc7 Td8 26.Ta7 f6 27.gxf6 gxf6 28.Cg4 Bh5 29.Ch6+ Rh8 30.Be2 Be8 31.Txa6 Rg7 32.Cg4 f5 33.Ta7+ Rh8 34.Ce5 fxe4 35.Bxb5 Cf6 36.Bxe8 Txe8 37.Rf4 Rg8 38.Rg5 Tf8 39.Rg6 1-0


“A immortal de Rubinstein”

Rotlewi, G - Rubinstein, A

[D40]

Lodz,1907

1.d4 d5 2.Cf3 e6 3.e3 c5 4.c4 Cc6 5.Cc3 Cf6 6.dxc5 Bxc5 7.a3 a6 8.b4 Bd6 9.Bb2 0-0 10.Dd2 [10.cxd5 exd5 11.Be2; 10.Bd3] 10...De7! 11.Bd3 [11.cxd5?] 11...dxc4 12.Bxc4 b5 13.Bd3 Td8 14.De2 Bb7 15.0-0 Ce5 16.Cxe5 Bxe5 17.f4 Bc7 18.e4 Tac8 19.e5 Bb6+ 20.Rh1 Cg4! 21.Be4 [21.Dxg4? Txd3 … ¦c3; 21.Ce4 Txd3! 22.Dxd3 Bxe4 23.Dxe4 Dh4 24.h3 Dg3 25.hxg4 Dh4#; 21.Bxh7+ Rxh7 22.Dxg4 Td2-+] 21...Dh4 22.g3 [22.h3 Txc3 23.Bxc3 (23.Bxb7 Txh3+ 24.gxh3 Dxh3+ 25.Dh2 Dxh2#; 23.Dxg4 Txh3+ 24.Dxh3 Dxh3+ 25.gxh3 Bxe4+ 26.Rh2 Td2+ 27.Rg3 Tg2+ 28.Rh4 Ad8+ 29.Rh5 Ag6#) 23...Bxe4 24.Dxg4 (24.Dxe4 Dg3-+) 24...Dxg4 25.hxg4 Td3 26.Rh2 Txc3-+] 22...Txc3 23.gxh4 [23.Bxc3 Bxe4+ 24.Dxe4 Dxh2#; 23.Bxb7 Txg3 24.Tf3 (24.Bf3 Cxh2-+) 24...Txf3 25.Bxf3 Cf2+ 26.Rg1 (26.Rg2 Dh3+ 27.Rg1 Ce4+ 28.Rh1 Cg3#) 26...Ce4+ 27.Rf1 Cd2+ 28.Rg2 Cxf3 29.Dxf3 (29.Rxf3 Dh5+) 29...Td2+-+] 23...Td2 24.Dxd2 [24.Dxg4 Bxe4+ 25.Tf3 Txf3-+; 24.Bxc3 Txe2 25.Tf2 Bxe4+ 26.Rg1 Bxf2+ 27.Rf1 Bf3 28.Td1 Cxh2#; 24.Bxb7 Txe2 25.Bg2 Th3-+] 24...Bxe4+ 25.Dg2 Th3!!


[25...Th3!! 26.Tf3 (26.Tf2 Bxf2 27.Dxe4 Txh2#) 26...Bxf3 27.Dxf3 Txh2#] 0-1


Fonte: Nuestro Circulo-tradução Marcio Vargas - Texto do Ciclo de palestras do Clube de Xadrez de Curitiba http://www.cxc.org.br/ realizada em 30/04//2008).

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